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Série “As 10 Caras do Rock Baiano” com o baterista Thiago Jende (Banda Tentrio e Tronica)

Sem perder o embalo, a série “As 10 Caras do Rock Baiano” traz para abrir a sua segunda fase o baterista Thiago Jende. Nesta sexta entrevista da série, Thiago fala sobre as suas influências e o poder da música nas pessoas e sobre a Tentrio e o seu novo EP, o Fuckadelia. Fala também sobre bootlegs (que são discos não oficiais de bandas muito difundidos na década de 1990) e sobre os planos da Tronica, além de expressar a sua opinião sobre os locais para se fazer rock aqui na cidade. E só lembrando: ajeite-se na sua cadeira, deixe o Facebook um pouco de lado e aproveite esse papo com um dos melhores bateristas da cidade.

SRP - Quem lhe conhece de perto sabe que você é um baterista disciplinado e atento ao que acontece no mundo da música, quais as suas principais influências e o que te inspira a tocar bateria?
Thiago Jende - Como baterista tenho três pilares que são Ringo Starr, Stewart Copeland e John Bonham. O que me inspira é exatamente a cumplicidade e o estado impar que a musica faz quando estou executando algo, me transporta pra uma outra esfera.
SRP - A música tem dessas coisas, não é? O poder de te levar para outro lugar, ou até mesmo simplesmente, com três segundos de canção, o cara pode chorar ou dançar. Além desses seus três pilares, ainda há bateristas da atualidade que te chamam a atenção?
TJ - Exatamente, a experiência de tocar é sem duvida algo transcendental, mexeu com o sentimento humano já era, muito bom. Na “atualidade” gosto muito de Dave Grohl, batera foda e visceral. Chegando mais pra cá tem Axel Sjöberg do Graveyard, batera seguro e muito bom mesmo. E um cara que é uma eterna inspiração, nosso querido REX. Tenho outros bateras em mente mais no momento esses estão no meu set list.
SRP - Recentemente foi lançado o segundo EP da Tentrio, o Fuckadelia, como tem sido a sua repercussão?
TJ - Tem sido boa caramba. Acredito que conseguimos nessa gravação transpirar tudo que queríamos, aquela viber do estúdio, do ao vivo, cru, distorcido, som de sala. Inclusive gravamos ao vivo 1, 2, 3 e gravando. Já tivemos bons retornos de sites especializados, músicos, amigos, parentes, colegas de trabalho e por ai vai. Isso já é recompensador! Tem sido boa pra caramba.
SRP - Ele foi produzido por vocês e pelo Irmão Carlos e os trabalhos anteriores teve a produção do Jera Cravo, como é trabalhar com produtores que possuem influências distintas?
TJ - São dois caras fodas, e admiro muito o trabalho deles. Por ser uma banda instrumental, entramos no estúdio digamos que 80% prontos pra gravar, e os outros 20% vem o detalhe dos caras que é o lance dos timbres. E tudo acontece de forma muito despojada e sem muitas amarras de detalhes. Mesmo sendo dois produtores com influências distintas os mesmos sabem escutar e entendem o que queremos fazer. Falando da bateria em especifico acredito que nessa ultima gravação conseguimos tirar um puta som de batera, mas isso também é um reflexo dos meus 31 anos kkkkkk. Quando ouvirem especialistas dizendo que gravar bem uma bateria começa na afinação acreditem, ai mora o algo mais.

SRP - Uma outra coisa que me chamou a atenção em vocês foi a disponibilidade de bootlegs no blog da banda, como surgiu a ideia de gravar os shows?
TJ - A culpa é de um microfone kkkk. Temos o costume de gravar os ensaios ai pensei em fazer um teste e gravar um show, ficou foda, foi ai que o guitarrista Eduardo César, que tava mais ligado nesse lance de bootlegs teve a idéia de fazer de fato e disponibilizar no nosso blog. O bom é que cada um é cada um, mesmo sendo uma banda instrumental não ficamos presos a algo certinho, e bem encaixado, deixamos a viber do lugar se manifestar e ai acontece a química.
SRP - Gostei muito da iniciativa e não me lembro de alguma banda ter feito isso antes...
TJ - A inspiração veio da década de 1990, rolava alguns.
SRP - Há alguns bootlegs ótimos da década de 1990, mas a internet infelizmente "acabou" com eles e agora é só um artigo que figura despercebido em lojas de discos usados... Isso quando se encontra um deles ou quando se encontra uma loja de discos!!! Rsrsrs.
TJ – kkkkkkkkkk, é isso! O lance é que o bootleg aproxima a banda mais do publico, pois é um ato desnudo de produção e requinte, e acredito que muitos como eu gostem disso.
SRP - E a Tronica? O que vocês andam fazendo além do tributo a Pastel de Miolos?

TJ - Depois dessa gravação partimos para uma outra fase da banda. Quem já viu o nosso show, escutou o EP, ou viu no youtube, e ver os nossos próximos shows e gravações vão ver algumas mudanças se são boas ou não, depois vocês me falam. Estamos enfurnados em estúdio produzindo algumas musicas que farão parte de um novo EP ou ate de um CD. Acredito que estamos conseguindo fazer um trabalho mais focado em nossas influencias primarias, e isso esta influenciando os timbres da guitarra, do baixo e a forma que toco bateria. Aguardem novidades!
SRP - Vi um show de vocês e o som me lembrou algo muito bom entre o stoner e o pop, você considera que o trabalho da Tronica é um amadurecimento do som que vocês faziam na No Off?
TJ - Acredito que tudo que fazemos um dia influencia no som que produzimos. A No Off foi minha e de Jamil Jende (irmão/guitarrista) a primeira experiência de tocar valendo, fazer musica autoral, botar a cara na rua, carregar equipamentos e por ai vai... Sobre o som acredito que tem uma certa distancia musicalmente falando. Stoner sim é algo que gostamos pra caramba, e João Marques (vocal/baixo) também. Sobre o lance pop é algo extremamente descolado, sincero e natural. Essa forma Beatles de produzir, que o Nivarna soube usar bastante nos fortalece também. Eu e Jamil tivemos um trabalho intermediário da No Off e da Tronica que foi a Radiozun, essa sim já dava uns nuances do queríamos fazer dois a três anos depois, kkkkk.
SRP - Você viu boa parte da cena (ensaiando em sua casa) na época do Estúdio Skaman, o que foi que vingou daquela época? Músicos e bandas de que você tem conhecimento, o que andam fazendo?
TJ - Cara posso citar aqui algumas bandas como a Game Over Riverside, que tinha uma musica na Viber do REM que quando vocês ia tocar eu corria pra escutar, kkkk. Outras bandas como Sociedade 3 Oitão, que curtia pra caralho, Anorexia, Nancyta e os Grazzers, Retrofoguetes, Honkers, Joe e a Gerencia não só de rock mais bandas de reggae bacanas. Teve muitas bandas mesmo, acredito dessa cena uma boa parte de certa forma ainda esta tocando, ou pelo menos dando uma pausa. Bons tempos aqueles! Acrescenta ai Maria Bacana, inspiração powertrio. BR-64 hardcore made in Bonfim foda!

SRP - Bons tempos mesmo, meu caro!! Ótimas bandas de rock surgiram da cidade baixa!
TJ - Com certeza, The Dead Billies que o diga!
SRP - Você já foi dono de estúdio e é atuante na cena com as bandas que você faz parte, qual a sua avaliação sobre os lugares para se tocar rock aqui em Salvador?
TJ - Cara ta difícil, na verdade nunca foi fácil mesmo, mas existia mais espaços isso sim tinha. Não sou saudosista, mas uma coisa é fato e fato não se contesta, já toquei no Rio Vermelho em uma época que tinha no mínimo cinco casas atuantes em plena quinta-feira e todas tendo bandas e com publico dentro. Acredito que essa nova geração é um reflexo disso, pois de certa forma o publico tem uma certa influencia nisso tudo. Temos Casas prontas apara se fazer um show, outras ainda dando os primeiros passos, mas ainda de forma reduzida para o numero de bandas existentes digamos assim. De certa forma uma galera foi pra rua tocar, banda no passeio ao vivo, junto com o publico e tocando alto e valendo. Isso é do caralho. Até mesmo artistas já mais “conceituados” fizeram isso e deu certo. Esse é meu sonho como artista ter uma estrutura de som bacana para tocar de graça e sem custos adicionais.
SRP - E as bandas do cenário, quais você destaca?
TJ - Cara tem coisas boas como, Vendo-147, Subaquático, Hessel, e o novo trabalho de CH Straatmann, nessa linha instrumental. No lance com voz, gosto do trabalho de Glauber Guimarães, que me traz uma sonoridade e composições maravilhosas. A Vivendo do Ócio ta mostrando um puta trabalho. Irmão Carlos e o Catado também é algo que muito me agrada e me faz dançar! Tem outras bandas também que acho do caralho!
SRP - Quer deixar alguma consideração final para os nossos leitores além de deixar os meios para achar a sua música pela rede mundial?

TJ - Pra essa galera que tá aí na labuta do Rock Soteropolitano lembrem de fazer uma banda pra se divertir, protestar, juntar a galera e coisas do tipo! Pra escutar minhas humildes baquetas acessem: 

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