Os bateristas dominaram o Portal
Soterorockpolitano! A nossa série “As 10 Caras do Rock Baiano” chega a sua
sétima entrevista com mais um grande baterista do nosso cenário: Dimmy “O
Demolidor” Drummer. Neste papo, Dimmy fala sobre bandas instrumentais, sobre
como foi gravar o som do clone drum no estúdio e sobre a sua relação com as
bandas que faz parte (Vendo 147, Bestiário e Stereowatts), além de expor a sua
opinião sobre o cenário local como músico e também como produtor e tour manager.
Então ajeite-se na cadeira, aproveite bem essa entrevista interessantíssima e
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Soterorockpolitano - Você é um músico que consegue aliar técnica e espontaneidade ao seu
estilo, quais as suas influências e o que te fez escolher a bateria como seu
instrumento?
Dimmy Drummer –
Então, acho que vem de um mix de influências.
Comecei a vida de músico como gaitista e vocalista de blues, depois de algum
tempo que fui para os tambores, porém, sempre estive nos bastidores como
produtor cultural. Daí acredito que isso ajuda nesse processo de influência. Como
referência de bateristas eu sempre destaco três bateras gringos e três bateras
nacionais: John Bonhham, Ian Paice e Bill Ward, Duda Machado (Pitty), Louis
Fernando (Cobalto/Drearylands) e Kiko Freitas (João Bosco) e acredite, eu
sempre quis ser Duda Machado (na bateria, claro), sempre via os shows da
Lisergia e pensava que queria muito tocar, um dia, como Duda. Já com Louis, eu
tinha e tenho certeza que nunca vou conseguir, huauahauha.
SRP - Rsrsrsrs, mas
me lembro do tempo em que você era conhecido também como "O
Açougueiro", por conta do seu estilo e isso me remetia ao apelido que o
John Bonham tinha, que era "The Beast". E eu achava legal por que a
referencia era muito justa...
DD - Mas o apelido de Demolidor vem
exatamente daí, do jeito carinhoso de tocar.
SRP - Há algum
tempo atrás houve o surgimento de bandas instrumentais no cenário e nos últimos
anos o número de bandas dessa vertente vem, de uma forma discreta, aumentando.
A que você atribui esse crescimento, mesmo o rock instrumental sendo um estilo
ainda pouco difundido?
DD - Realmente, começaram a surgir
excelentes bandas desse segmento nos últimos anos e tenho percebido que esse
numero tem aumentado, talvez a moçada tenha cansado dos vocalistas
(brincadeira). Eu acredito que como toda banda é instrumental, talvez isso já
aconteça naturalmente e de repente, aquela ideia de ter uma música instrumental
no repertório tenha se transformado em um repertório inteiro para muitos
músicos.
SRP - O bom das
bandas instrumentais é que elas quebram um pouco o formato convencional que se
estabeleceu para o rock, que é aquele de que "tem que ter um
vocalista" e às vezes a coisa funciona melhor sem a presença desse
elemento...
DD - Não sei se funciona melhor, mas os
músicos gostam bastante, principalmente pelo fato da liberdade na hora de
compor e de executar as músicas. Não existe a preocupação com um formato apesar
de que algumas dessas bandas substituem o que seria a voz pelos próprios
instrumentos. É isso, é a tal liberdade – hehehe.
SRP - O clone drum
é de fato um diferencial no som da Vendo 147 e um aspecto peculiar dentro do
cenário musical baiano. Como foi a experiência de gravação do clone drum dentro
do estúdio?
DD - A primeira vez foi ensurdecedora. Gravamos
quatro músicas para o primeiro EP no antigo estúdio 60 de Jera Cravo. Como
estávamos no inicio, praticamente era como um espelho, tocávamos quase que a
mesma coisa, ao mesmo tempo, eu e Glauco. A segunda vez foi incrível a gravação
do Godofredo no Estúdio T, do professor André T. Gravamos em duas etapas, por
conta da ideia do disco e usamos baterias diferentes, já é um momento bem
melhor do clone drum, onde já temos as coisas bem sincronizadas e com isso foi
possível explorar bastante dentro do estúdio.
SRP - Recentemente
entraram na Vendo 147 o Enio Nogueira e o Bruno Balbi, ambos assumindo as
guitarras. Como tem sido a influencia deles no som do grupo?
DD - Enio é um velho conhecido para
muitos, pois além do seu trabalho (Enio e a Maloca) ele já tocou em bandas bem
influentes na cena como a Dois Sapos e Meio e Mercy Killing. É um cara
extraordinário como pessoa e como guitarrista e é como se chegasse um craque
num time de futebol, daqueles camisa 10, com toda essa bagagem está ajudando
muito no amadurecimento da banda e nos novos caminhos que pretendemos seguir.
Bruno Balbi é o sangue novo do time, garoto, super talentoso e se identifica
muito com a ideia toda, simplesmente, estamos muito bem servidos nessa posição.
SRP - Falando um
pouco sobre os seus outros trabalhos, a Bestiário e a Stereowatts. Na
Stereowatts você mostra um lado musical pouco conhecido pelo público que é a
influência da música eletrônica nas suas composições e na Bestiário é notório
um som mais pesado, denso e sombrio. Apesar da diferença musical há abertura
para o som de uma banda interferir no som da outra e agregar mais qualidade à
sua contribuição a elas?
DD - Eu sempre penso que o músico tem que
servir à música, se a música me pede alguma coisa, eu tenho que fazer, penso
dessa forma, por isso tive vários trabalhos distintos ao longo dessa vida
musical que tenho. É só dar uma passada no que eu já toquei e vai perceber o
mix de gêneros. Eu sempre acredito que eu tenho que ser um batera para cada
banda que toco, por mais que eu tenha as minhas influências, eu não gosto de
tocar da mesma forma, pois a música é diferente, o caminho que a música me
mostra é diferente. É isso, na minha cabeça eu tenho que ser um baterista em
cada banda que toco.
SRP - Tendo feito
parte da formação clássica da The Honkers e da fase mais ativa da banda, o que
você recorda de melhor daquela época e o que traz de referência de lá?
DD - Foram oito anos vivendo o Honkers dia
e noite, muito da minha referência musical, como produtor e principalmente como
tour manager vem desse período. Vivi muita coisa incrível nessa época,
musicalmente falando, e sou eternamente grato por ter vivido isso.
SRP - Me lembro que
aquela turnê que vocês fizeram, que também passou pela Argentina, foi algo
ousado. Cair na estrada e tocar nos lugares que vocês tocaram foi algo corajoso
e desafiador...
DD – É, o Honkers sempre foi desbravador.
SRP - Você já
correu o Brasil tocando, com boa parte das bandas que já passou, em eventos
como a Virada Cultural (São Paulo) e o Abril Pro Rock (Pernambuco), em que
Salvador se difere das demais cidades em termos de bandas e de estrutura?
DD - Eu sempre carreguei a bandeira das
bandas daqui, sempre vi muito mais qualidade nas bandas de Salvador, porém, o
Brasil é um país muito grande e temos um cenário independente gigantesco e com
muitas bandas superinteressantes, porém, Salvador tem um diferencial que é a indústria
do axé como aliada, parece até piada, mas, graças a esse imenso mercado é que
temos boas lojas de instrumentos, ótimos estúdios de gravação e excelentes
técnicos que se especializaram no rock... Isso faz uma diferença imensa, é só
perceber na gravação das bandas daqui e de bandas de outras cidades. Poderíamos
ter uma estrutura a altura para nos ajudar, porém, esse mesmo mercado ficou por
anos parado no produto que eles criaram e temos esse hiato no que diz respeito
a estrutura de shows de bandas que não são da denominada industria do axé, mas...
Como o mundo da voltas, dá para todos e o que vemos é um declínio dessa
indústria e, cada dia que passa, cada vez mais próximos a nossa realidade chegando
até a disputar pauta em lugares que várias bandas de rock já estavam
acostumadas a tocar na noite. Acredito que pode ser o início de uma nova era
para quem trabalha com música na cidade, pode demorar para chegar num nível
agradável, porém é um começo.
SRP - Com certeza,
concordo plenamente. Eu sempre falo que não há cidade com melhor potencial para
fazer rock como Salvador tem. É como naqueles casos onde as situações adversas
são as melhores oportunidades para se fortalecer e ascender!!
DD - E como o rock sempre foi contra
cultura, ou sempre remou contra a maré, nada mais propicio do que toda essa
história.
SRP - Nos últimos
anos os períodos de baixa agitação no cenário representam intervalos cada vez
maiores entre um momento e outro mais efervescente. Na sua opinião, o que causa
esse aspecto da cena soteropolitana?
DD - Eu percebi que depois que a internet
se tornou mais acessível muita coisa na música mudou, tanto pra bom como pra
ruim, tanto o público mudou como as bandas. Antigamente as bandas era super
interessadas em conhecer outros trabalhos, trocar material, fazer
intercâmbio... Hoje tudo isso ainda acontece, mas de uma maneira mais seletiva.
Se consolidar hoje em dia, ao mesmo tempo que é fácil, é mais difícil pois no
meio de tanta coisa boa ou ruim que a internet lhe proporciona, as pessoas
pensam muito antes de montar um trabalho. Parece que quando é mais difícil e
mais complicado, as coisas acontecem e quando é mais fácil, elas empacam.
SRP - E as bandas e
artistas? O que tem lhe chamado a atenção?
DD - Maglore, Di bigode, Amp, The Baggios,
Plástico Lunar, Cascadura, Baiana System, Jair Naves, Aeromoças Tenistas
Russas, Monster Coyote, Huey, Cassim & Barbária, Tentrio, Ferraro Trio,
Calistoga, Zefirina Bomba, Far From Alaska, Camarones, 4Instrumental, Them
Crooked Vultures... São algumas das bandas que não saem da minha playlist. É
sempre ruim citar bandas, porque sempre se esquece de alguém (odeio isso),
hehehe.
SRP - E como foi a
experiência de fazer uma jam com o Pepeu Gomes em uma apresentação da Vendo 147?
DD - Foi dentro do nosso projeto “Vendo
147 Convida” onde ele foi um dos convidados junto com a Nina Becker (Orquestra
Imperial) e Lucas Santtana. Rapaz, tocar com o Pepeu é realizar um sonho. O
cara é o Deus da guitarra, é tudo aquilo que parece ser e mais um pouco sem
contar que é uma simpatia de pessoa. Tocamos três músicas dele e ele tocou o
medley que fazemos nos shows com clássicos do rock e ainda deu a dica dele,
durante a música. Foi realmente um sonho realizado
SRP - Dimmy, para
finalizar sempre abro um espaço para o entrevistado deixar uma mensagem para os
nossos leitores. Qual a sua mensagem para eles?
DD - Se você tem um trabalho (seja na
música ou não), acredite nele, se você não acreditar, vai ficar muito difícil
alguém leva-lo a sério. Nunca sinta que já está bom, que já é suficiente e que
não precisa melhorar. Toda crítica é válida, principalmente aquela que mostra
um erro que você não enxergou, isso só vai fazer o seu trabalho melhorar.
Saúde, paz, prosperidade, harmonia e sejam sempre positivos!