O Portal Soterorockpolitano foi buscar
na cidade de Barreiras os entrevistados da oitava entrevista da série “As 10
Caras do Rock Baiano”, são eles o guitarrista Rick Rodriguez e o vocalista Tito
Blasphemer, da banda Vômitos. Nessa entrevista eles falam sobre as condições da
cena da sua cidade e do esforço para mante-la ativa, suas influências e a
inspiração para as suas letras, além da repercussão do clipe da música “Facada”,
que já chegou a mais de 3.000 visualizações no Youtube. Então, ajeite-se na sua
cadeira e fique ligado para não tomar uma facada no bucho.
Soterorockpolitano - Como e quando surgiu a banda?
Rick Rodriguez - A banda surgiu em 2007, tínhamos um
interesse em comum, que era o punk rock, e isso nos motivou a formar a banda na
época, começamos tocando músicas dos Ramones, que era nossa banda preferida e
logo em seguida começamos a compor, e ter nossas próprias músicas.
Tito Blasphemer - Estávamos cansados da cena de nossa
cidade, bandas que tocavam apenas covers de bandas emo produzidas pela mídia. Era
frustrante ir no único gig do mês e ouvir só bandas de cover! Eu na época era
um moleque que tive muitos problemas com drogas arrumava muita treta com essas
bandas de cover. Como eu e Rick já éramos amigos tivemos a ideia de montar uma
banda e como já tínhamos influência do underground ajudou muito na identidade e
som da nossa banda.
SRP - Um cenário formado por bandas
mais autorais é bom melhor do que feito por bandas de covers...
Rick - Com certeza! Nos destacamos na cidade
por sermos uma banda autoral.
Tito - Isso mesmo, prova disso é que das
bandas da década passada nós somos a única banda ativa.
SRP - Vocês dois são os únicos
componentes originais da banda, por que essa rotatividade de músicos nos postos
da bateria e do baixo?
Rick - Sim, somos os únicos membros
originais, é complicado levar uma banda através dos anos, ainda mais sem apoio
e tal. Os membros anteriores tiveram motivos pessoais para saírem da banda,
trocamos de baterista e de baixista, mas isso não afetou a banda, os membros
que ocuparam os lugares se adaptaram rápido ao som e ao nosso estilo. As duas
mudanças de formação, na minha opinião, deixaram o som da banda ainda mais
definido.
SRP - O som de vocês lembra bandas da
geração dos anos 1980, mais especificamente as que figuraram nas coletâneas
punk Sub e Ataque Sonoro, quais as principais influências do grupo?
Rick - Para falar a verdade nossa maior
influencia é o punk setentista, de New York Dolls a Sex Pistols, mas também
temos influencias nacionais, bandas como Cólera, Restos de Nada, Replicantes e
outras. Com o tempo, acabamos criando uma identidade própria para as nossas
músicas, que ficou bem parecido com aquele punk dos anos 80, aconteceu
naturalmente... Mas não temos só influencias punk, também curtimos rock
clássico, ska e outros estilos.
Tito - Alem dessas que o Rick falou,
pessoalmente as bandas que mais me influenciaram foram The Who The Doors e
Hellhammer. The Who e The Doors pela excentricidade e atitude auto destruidora
e Hellhammer, mesmo metal, os caras não sabiam tocar porra nenhuma e viraram
uma lenda. Só na raça eles são os caras mais punks desse estilo.
SRP - Muitas vezes as melhores bandas
se escondem nesse detalhe, de não ter uma técnica muito apurada, não é?
Conhecer cada vez mais o instrumento é sempre muito bom, mas se n tiver
cuidado, o som fica quadrado...
Tito - Isto aconteceu com muitas bandas do
punk.
Rick - Tem que explorar a criatividade, por
que senão acaba virando mais um clichê, hoje mais do que nunca está mais
difícil ainda criar.
SRP - Falando em criatividade, onde
vocês buscam inspiração para compor as letras da Vomitos? Os personagens que
aparecem nas suas letras como o mendigo, Frank, o cara que é expulso de casa
aos 37 anos são pessoas conhecidas, ou elas são criadas por vocês?
Tito - São criadas por nós, mas buscamos
inspirações nas historias inusitadas que acontecem na nossa cidade. Bem no
começo da banda a cidade era infestada por mendigos, fizemos amizades com
muitos. Daí fizemos uma homenagem aos mendigos da nossa cidade com a musica “A
do Mendigo”.
Rick - O Frank também foi criado por nós,
como uma forma de mostrar a realidade, coisas que acontecem atualmente como
repressão, manipulação e exclusão social, como é retratado na música. O cara de
37 anos, haha, foi uma forma de mostrar a homofobia, porém de uma forma
humorística e irônica ao mesmo tempo.
SRP - Eu, particularmente, acho a
letra de "Camisa de Abadá" bem clássica nesse sentido. Tem um monte
de gente que só usa camisa de abadá aqui em Salvador!!!
Tito - Eles usam tanto a camisa de abadá que
ficam parecendo mendigos no final do ano, depois compram uma nova em fevereiro.
Rick - Na nossa cidade não é diferente,
camisa de abadá é para se vestir o ano todo, haha.
Tito – Pagodeiros e gogoboys desfilando com
camisas de abada fininhas parecendo drags!
SRP - Vocês tiveram mais de 3 mil
visualizações no youtube com o clipe da música "Facada", vocês
esperavam atingir essa marca?
Rick - Para uma produção caseira são muitos
acessos, eu particularmente não esperava nem 1000 acessos. O clipe estourou de
uns dias pra cá depois que o vocalista do The Honkers postou (o vídeo) no face
dele, devo agradecimentos a ele, haha.
Tito - Produção caseira de uma banda que é
odiada na sua região, hehe. Temos muitos haters, mas todo mundo vai no gig
quando organizamos!
SRP - Quais as oportunidades que
surgiram para vocês depois dessa visibilidade?
Rick - Convites para tocar aí em Salvador,
Brasilia além também do reconhecimento que abanda ganhou depois do clipe.
SRP - Como é a cena musical de
Barreiras, ela é diversificada em termos de estilos de bandas de rock?
Rick – Bom, a cena aqui atualmente é
dividida entre o mainstream e o underground, umas bandas tocam por dinheiro
outras tocam por que gostam, no underground os estilos são diversificados, não
se prendem só ao punk, no underground a maioria das bandas são autorais.
Tito - Na década passada tu só via banda de
cover heavy metal e emo, hoje temos muitas bandas com músicas próprias, punk
rock, black metal, pop rock e horror punk. A cena ainda tem muito o que melhorar!
Acho que estamos numa fase de transição, mas posso dizer que o punk
revolucionou a cena daqui, o pessoal passou a dar mais valor a musicas
autorais.
SRP - Há pouco vocês falaram que
possuem muitos haters, isso é algo que ocorre só com vocês ou existe alguma
divisão ente os estilos da cena?
Tito - O mainstream odeia nossa banda. No
underground não temos nenhuma divisão de estilos, nenhuma! Metal, punk ou seja
lá o que for temos bastante união.
Rick - Aqui preferem dar valor a cópias do
que às coisas autenticas. Dentro do underground tem de tudo aqui, praticamente
todas as vertentes do rock, e não há discriminação.
SRP - E quanto a estrutura, a cidade
oferece qualidade para as bandas daí?
Tito - Estrutura e apoio zero! O ultimo gig
no beco do rock, no dia mundial do rock, o beco estava cheio de entulho e merda
e o som podre. Nosso som é composto de cubos de todos os integrantes das bandas
que tocam na noite.
Rick – Nada! Nossa cidade não tem nada que
apoie a cultura, não só na música, em todos os sentidos. Nem patrocínio, nem
apoio cultural, apoio do poder público ou das secretarias, nada disso existe
aqui.
SRP - Sem espaço devido para shows,
ou qualquer incentivo à cultura, o que acaba sobrando para o povo barreirense?
Rick - Acaba sobrando as micaretas, que é a
única coisa que tem apoio por aqui, kkkk. Para tocar temos que nos virar
sozinhos, pra organizar shows, que abre espaço tanto pra banda quanto pra
galera que curte o movimento.
Tito - Nossa cidade esta para o pior lugar
do mundo para se tocar numa banda assim como o Afeganistão esta para o pior
lugar do mundo para se nascer. Barreiras, nossa cidade, é um cenário agreste em
todos os sentidos.
SRP - O Beco do Rock me parece o
principal, ou o único, reduto do rock em Barreiras...
Rick - Atualmente é o único, até o centro
cultural dessa cidade está interditado por irregularidades, imagine se eles
disponibilizariam um reduto para o rock.
Tito - Tinha também o ferro velho onde
aconteceram os gigs mais sujos que vão ficar pra sempre na minha memória, mas o
espaço foi demolido e vendido.
SRP - E o local onde vocês gravaram o
clipe de "Facada"?
Rick - Aquele é o local onde a gente ensaia,
nos fundos da minha casa.
Tito - Agora só nos resta o beco.
SRP - Vi um vídeo de vocês tocando em
um porão na cidade de Brasília, a banda tem abertura para tocar nas cidades
próximas a Barreiras?
Rick - Ao longo dos anos tocamos em toda a
região, fizemos amizade com outras cenas, isso fortaleceu o rock na região, as
bandas sempre convidam as outras para tocar nas suas respectivas cidades, é um
dos pontos fortes do underground aqui na região, uma cena ajuda a outra.
Tito - É muito bom tocar fora de nossa
cidade, só cair na farra e mandar nosso som.
SRP - E planos de tocar na capital,
ou nas cidades mais próximas do litoral, vocês tem pretensões de cair na
estrada para o lado de cá?
Tito - Porra cara é meu sonho sair tocando
fazer uma tour!
Rick - Vontade a gente tem, queríamos muito
conhecer de perto a cena dai, mas nos falta o principal, grana. Haha.
Tito - Tem o Terminal Zero, Repugnantes,
Demons Wings Voadores, Hell Affliction, Carnissais, Albatruzes, e a banda do
Murilo, acho que é Mainá. É uma cara que toca violão musicas próprias, pra quem
gosta de um som hippie ele é boa pedida!!
Rick - Têm duas bandas que gosto, de Santa
Maria da Vitória, Hellraiser b.s e Bastard, são duas bandas do underground que
estão ganhando nome no cenário regional e essas que o Tito citou, daqui mesmo
da cidade.
SRP - Finalizando, eu gostaria que
vocês deixassem algum recado para os nossos leitores. O que vocês gostariam de
dizer para eles?
Rick - Gostaria de agradecer o espaço,
queria dizer que música não foi feita pra ganhar dinheiro, música foi feita pra
ser ouvida e ser sentida, é decepcionante ver no que certos 'artistas'
transformaram a música hoje em dia, um verdadeiro comercio. Apoiem a cena de
vocês, o rock n' roll nasceu no subúrbio e é nele que se encontra a verdadeira
atitude.
Tito - Foi muito excitante a
entrevista Leo, boa noite. Eu vou dormir "nestante" porque tenho que trabalhar
daqui a pouco.