Caos, imersão obsessiva no
mundo virtual, catástrofes naturais, fatos que questionam a religiosidade e
cultura de massa para manter o povo inerte. Esses são alguns dos pontos
principais abordados neste novo trabalho da Desrroche, Conecte 1969, o primeiro
desde 2014, quando lançou o single Nova Canção. Temas pertinentes envoltos em
um ambiente musical com muita guitarra, baixo e bateria volumosos, sintetizadores
e performances vocais marcantes.
O quinteto dá continuidade a
sua carreira se mantendo fiel a sua estética visual, a mesclando bem com a sua
música em um EP com cinco faixas, lançado há um pouco mais de um mês. Algumas
delas já bem conhecidas do seu público fiel, mas muito bem registradas e dentro
de um ótimo som. Há aqui uma proposta musical de muito peso oferecida aos seus ouvintes
mais antigos e aos recém iniciados na sua discografia.
O EP abre da maneira como se
deve abrir um disco, com uma música que não se encaixaria em outra parte dele.
Conecte tem o peso ideal que empolga o ouvinte, algo que também se percebe nos
shows da banda. Sons de internet discada ao fundo das guitarras pesadas e uma
cozinha impactante dão o norte do que vem pela frente, e ainda traz na sua
letra versos pertinentes da esfera virtual: “Alguém me lê?/Alguém me ouve?”. Teocêntrica
surge mais arrastada, porém não menos pesada. Com um teclado ganhando mais destaque
na faixa, aqui o grupo questiona a crença religiosa diante de tantas
catástrofes e atrocidades ocorridas pelo mundo. A boa interpretação do Lex
Pedra juntamente com backing vocals orientais e um ótimo solo de guitarra, dão
mais dramaticidade a composição. 9 Polegadas segue com a mesma pegada, só que
mais sombria, em música e texto, onde é narrada sensações claustrofóbicas de
dentro de uma caixa a “sete palmos da encruzilhada”. Ela explode em alguns
momentos e de maneira mais empolgante na sua sequência final.
Em Mãe Terra, o peso
vibrante da banda retorna com uma boa mescla de vozes noticiando o desastre
ecológico em Mariana e sirenes. A velocidade impressa nessa canção cai bem com
seus riffs, mais um ótimo solo de guitarra e um refrão grudento. Nela a letra
da canção versa sobre o quanto o homem tem acabado com o ecossistema do planeta
e o quanto a natureza tem cobrado de volta esses maus tratos. O fade out nela
encerrou bem esse registro. Fechando o EP, Nova Canção, originalmente lançada
como um single em 2014, se mostra bastante atual em termos de sonoridade em
relação as demais. O tema encontrado no seu texto ainda é bastante relevante,
onde se coloca em questão as novas tendências musicais, religiosas e de
diversões, onde se levam a mais uma alienação, que são empurradas a qualquer
maneira para as pessoas, sufocando qualquer possibilidade delas de questionar
se querem, ou não, consumir isto. O seu som pesado, com interlúdio com um pé no
psicodelismo, para chegar em uma parte mais veloz, empolga bastante nos seus
segundo finais.
Em Conecte 1969, a Desrroche
se saiu bem na escolha da sonoridade utilizada para a sua música nesta obra. O
seu som gótico e industrial possui grandes trunfos em seus arranjos e suas
letras fazem refletir sobre o que é abordado nelas. É bem provável que o
apocalipse já tenha acontecido e você não se deu conta isso! As músicas pesadas
têm uma boa proximidade com as suas versões ao vivo, da mesma maneira em que
você vê o quinteto e todo o seu aparato visual no palco, não fica difícil
pensar em todo o seu conceito artístico enquanto se escuta esse disco. É um bom
trabalho que dialoga bem consigo mesmo e com o mundo ao seu redor.