A
nossa série de entrevistas surge mais uma vez trazendo o frontman de uma das
bandas mais interessantes do cenário roqueiro baiano. Aqui, o André Dias fala
como a ExoEsqueleto se formou, sobre a mistura musical da banda, que transita
entre o som regional baiano e o rock, e sobre como ele é recebido por aqui. Além
disso, colocou as suas impressões sobre a cena e falou sobre os planos do grupo.
Tudo em um papo lúcido e sincero. Então, se ajeite onde estiver e é só nos
seguir.
SoteroRockPolitano
- Vamos começar falando um pouco sobre a formação da ExoEsqueleto. Ela começou
com ex integrantes de bandas da primeira década dos anos 2000, como a Sine Qua
Non e a Headfones, como ocorreu esse encontro?
André
Dias - Rapaz, esse encontro ocorreu como a grande maioria dos
que ocorrem na cena baiana. A Headfones e a Sine Qua Non perambulavam pelo
famigerado Nhô Caldos, inclusive, conheci Renato numa dessas noites insanas de
lá. Coincidiu de as duas bandas ensaiarem no mesmo estúdio, o saudoso Doron
Studio, e aí eu conheci o resto da galera. Sempre ficamos de fazer um som com as
duas bandas, mas nunca rolou. Daí, a Sine acabou e não rolou mesmo. No início
de 2012, percebendo que a Headfones tava em processo de encerramento, comecei a
compor umas coisas diferentes do som que fazia naquela época e decidi montar
outro projeto. Meu primeiro contato foi com Ricardo Bittencourt e logo nas
primeiras ideias a gente quis que Renato fosse o baterista. Depois de conseguir
convencer ele a tocar com a gente começamos as trabalhar as músicas no estúdio
que Ricardo tinha em casa, que carinhosamente chamávamos de Cafofo. Daí pra
frente, foi aquele corre de querer tocar, gravar aparecer...
SRP
- Mais tarde o grupo passou por algumas mudanças, como a saída do baixista original
e inserção de um percussionista. De que maneira esse fato influenciou nas canções
antigas e nas novas composições?
AD - Sendo
bem realista na resposta, eu acredito que tudo o que aconteceu com a banda
nesses quase cinco anos, aconteceu pra melhorar nosso som. Claro que a gente
lamentou a saída de Ricardo, por motivos pessoais, e de Arilson pelos mesmos
motivos, mas em contrapartida, Didoné chegou com a percussão dando muito mais
coerência à nossa proposta de agregar outras texturas musicais com o nosso
amado rock. Por fim, de outubro pra cá, com a entrada de Cadinho, que tem uma
linguagem muito mais rock do que eu, digo no sentido das cordas, conseguimos
equilibrar a sonoridade da banda. Compor coisas novas sob essa perspectiva
tornou o processo ainda mais prazeroso.
SRP
- Já faz algum tempo que o primeiro trabalho da ExoEsqueleto, o ExoSessions,
foi lançado. Porém, mais recentemente, vocês gravaram para a coletânea Outro
Jeito – Da Bahia pro Mundo a faixa Reza e, mais recentemente ainda,
disponibilizaram o vídeo da música Ifé. Qual a previsão para a chegada de um novo
disco do grupo e o que aguardar dele?
AD - Dia
1º de outubro ele faz 4 anos! Mas é isso... Sempre ouvi falar que o disco é o
registro do momento da banda, mas só hoje consigo sentir isso de verdade, sabe?
Acredito que chegamos à formação ideal da banda e criamos a atmosfera perfeita
pra esse segundo disco. A gente nunca sabe o que vai acontecer, ainda mais
nesse mundo da música independente, mas eu amo esses caras e mais ainda, amo
tocar com eles. Fomos contemplados no Incubadora Sonora, mais um incrível
projeto de Irmão Carlos e vamos gravar duas músicas novas no final de junho que
farão parte da coletânea do projeto. Isso será o pontapé inicial pra gravar o
resto do disco. Acredito que 80% das músicas já estão prontas e estamos nesse
processo de começar exaustivamente até deixar tudo como queremos.
SRP
- O conjunto tem incorporado cada vez mais elementos da música regional baiana
em suas melodias e as letras também passam por esse viés. Como tem sido
trabalhar essas influências dentro da ExoEsqueleto e mistura-las ao rock?
AD - Cara...
É meio natural, sabe? A gente nasceu e cresceu numa terra que tem uma
diversidade musical tão incrível que a gente acaba assimilando algumas coisas
por osmose. E a Exo é meio uma versão miniatura dessa pluralidade toda. Temos
Didoné que é um percussionista candomblecista que ouve Ramones, Metallica e
pesquisa ritmos latinos e uma pilha de coisas; Cadinho que também é um
pesquisador atento à tudo que se diz respeito a misturar ritmos com o rock;
Renato é um cara que ouve muita música brasileira das décadas passadas, além de
estar atento à tudo que rola no cenário alternativo local e tem eu, que gosto
de Queens of the Stone Age à Rihanna, de Coldplay à Macaco Bong... Dá pra
perceber que tem muita DR, mas a gente se entende bem na hora de fazer música e
essa mistura acaba rolando de boas porque a gente se preocupa muito em respeitar
os pontos de convergência entre os ritmos na hora de apresentar a nossa verdade
como banda.
SRP
- Algumas outras bandas também têm mesclado a cultura da Bahia em seus sons. Como
tem sido a receptividade na cena em relação a esse fato? Você acredita que essa
linguagem será mais difundida por aqui?
AD - Eu
acredito que isso torna a cena local cada vez mais heterogênea e acaba
resultando numa receptividade bacana pra quem se propõe a fazer essas mesclas.
Tem bastante banda fazendo isso já: Swinga, Tabuleiro Musiquim, nós da
ExoEsqueleto, a Levante! traz essa mescla em algumas músicas e tem uma galera
mais nova que a gente fazendo isso com muita propriedade que é o exemplo dos
meninos da Ofá. Todas são bandas completamente diferentes e eu acho que isso
vai ser difundido ainda mais porque o Baiana System tá provando para um público
maior que imprimir nossa baianidade em qualquer outro som, com coerência, é um
caminho interessante a se percorrer, então mais e mais pessoas vão se
interessar em consumir músicas que abarquem essas ideias.
SRP
- Atuando já a bastante tempo no cenário local, o que mais você tem observado
de positivo e de negativo na cena? Sinto uma efervescência boa por aqui, sempre
há aqueles mais pessimistas, claro, mas como você enxerga o momento atual?
AD - Eu
acho que estamos no momento mais fértil da história do rock local, respeitando
o rico passado da cena, obviamente. Tem muita coisa boa sendo feita aqui.
Bandas novas com umas sonoridades distintas: Ronco, Dutxai e os Indizíveis,
Calafrio, Rivermann; Velhos dinossauros à todo vapor como Declinium (na qual já
fiz parte em 2011), Game Over Riverside e Pastel de Miolos. Cara, dividimos
palco com a Pastel dias atrás e é uma injeção de ânimo ver os caras com mais de
20 anos de estrada com energia pra se reinventar. É simplesmente maravilhoso! De
negativo tem aquele velho assunto delicadíssimo: A louca relação entre bandas/artistas
versus bares/ casas de show que é algo que vai persistir por muito tempo porque
os dois lados tem suas razões e é muito complicado apontar uma solução imediata
pra que as partes saiam satisfeitas. O artista quer tocar, mostrar seu trabalho,
formar público e o dono da casa quer vender bebida, lucro, pagar as contas. É
bem louco isso, mas é um entrave que a gente precisa resolver para as coisas
fluírem melhor.
SRP
- Mesmo tendo se referido a algumas influências, entre bandas locais e gringas,
o que você tem escutado ultimamente? O que tem te chamado mais a atenção na música?
AD - Velho,
meu player é variado demais. O que eu ouço depende muito da vibe do dia. Mas
tem umas coisas que nunca saem dele: Queens of the Stone Age, Foo Fighters,
Incubus (que acabou de lançar disco). Nacional, escuto muito Metá Metá, Aláfia,
Gil, Macaco Bong. Local, sempre dou um saque na beleza do EP Marte, da
Declinium. Tenho, também o Quintais abertos da Novelta e, de uns dias pra cá
tenho escutado o Novas Ideias, Velhos Ideais da PDM e uma banda nova daqui
chamada Coquetel Banda Larga que tem um som muito bom e que dialoga com vários
ritmos. O que mais tem me chamado a atenção ultimamente é uma banda mexicana
San Pascualito Rey, que Cadinho me apresentou. Os caras são espetaculares.
Melodias tronchas, cheias de distorção e noise com letras incríveis e toda a
malícia percussiva latina misturada com tudo isso.
SRP
- Para encerrar, sempre deixo esse momento para o entrevistado deixar um recado
para os nossos leitores, qual o seu?
AD - Queria,
primeiramente, parabenizar o Soterorock pelo brilhante trabalho em divulgar o
conteúdo produzido por nós da cena independente baiana e agradecer pela
oportunidade de falar um pouco sobre o trampo da Exo. No mais, tem muito
mistério não: Fiquem ligados porque esse segundo semestre vai ser bem
movimentado pra ExoEsqueleto. Vai ter disco novo, bastante shows, vídeos novos
e uma quantidade bacana de conteúdo a ser produzido. É só ficar ligado na Fanpage
do Facebook pra ter acesso a tudo isso. E mais, se liguem aos derivados da Exo.
Cadinho vai lançar disco solo no segundo semestre, Didoné é o homem dos
projetos paralelos e sempre pinta uma novidade com ele envolvido. E eu vou
começar a gravar um EP solo, mas ainda não sei lançarei esse ano. Vai ser um
som bem diferente da Exo e eu estou bem empolgado com mais esse projeto.