Escrever sobre a sua própria
banda é uma tarefa difícil. É algo complicado, de fato. Em situações como essa,
o musico que escreve tem que manter sempre o cuidado para não pesar a mão sobre
determinados aspectos, se vai ser positivamente tendencioso em certos pontos e
até mesmo estar atento para não cair na armadilha de querer ser tão imparcial
com a sua própria musica e acabar enxergando mais defeito do que realmente
existe. Encontrar um equilíbrio dentro dessas questões é a verdadeira tarefa de
um texto como esse que vem a seguir. Esse esforço é maior quando se escreve
sobre um show. Tocar e, ao mesmo tempo, ver o que acontece no lugar até que
funciona, mas muita coisa se perde durante o processo. Já disco é um pouco
diferente, a concentração é, obviamente, maior e estar atento e respeitoso com
o som alheio são os principais elementos para transcrever a obra de um grupo.
Foi assim que decidi fazer quando escrevi o release de Empty, o mais recente EP
da G.O.R., que você está prestes a ler e que inicialmente não era para estar
aqui, mas por um acaso está! E porque não, né? Nele, tentei escrever como se estivesse
o fazendo para o site, como executo normalmente pelas “internets”. Acabei
mexendo em um trecho aqui e ali, para não ser uma cópia descarada de mim mesmo,
mas no geral é o texto original. De qualquer maneira não foi fácil, mas foi
feito!
Eu
não sei escrever os textos que faço, mas eu escrevo.
O final do último mês de
2016 se aproximava e a Game Over Riverside tinha um objetivo definido: lançar o
seu segundo EP em meados do ano seguinte! Ainda havia canções para a banda
gravar em um novo trabalho e o desejo de materializa-las norteou o caminho que
o quinteto fez para chegar até esse exato momento, no qual você está escutando,
ou está prestes a escutar o Empty.
Novamente, seis músicas
foram escolhidas para compor o disco, a outra metade do repertório da G.O.R., e
uma constatação saltou aos olhos dos cinco rapazes da cidade baixa! Todas elas
mais pesadas em relação às suas irmãs encontradas no seu debut. Dessa vez, o
indie deu mais espaço para o noise grungenesco de tons mais sombrios com
influências de Ramones, David Bowie, Manic Street Preachers e Black Sabbath, o
que fez com que a banda dedicasse mais tempo e atenção às sessões de gravação. A
caminhada foi longa, porém prazerosa! Foram oito meses de um processo que
contou novamente com o trabalho cuidadoso e primoroso do produtor André Araújo,
responsável por entender as composições, a atemporalidade de ambas as faixas e
dar a elas um som pomposo, diante dos novos arranjos que a maioria ganhou em
meio ao desenvolvimento criativo, amarrando os dois trabalhos como se eles
formassem uma dualogia. Mesmo que se apresentem diferentes um do outro!
O texto proposto pelo grupo,
nessa ocasião, também não fica para trás da sua sonoridade, trazendo críticas e
observações mais ácidas a sociedade e a seus comportamentos, porém não abandonando
a ironia e o sarcasmo característicos da banda. Na faixa título, que abre o
trabalho, o impacto do seu peso serve de trilha para a letra que aborda o vazio
dos sentimentos e das futilidades consumidas pelas pessoas em seu dia a dia, em
um mundo cheio de bebês nascidos preparados para morrer. Em Me and my Band, com
um shoegazer-punk radiofônico de refrão explosivo, a Game Over Riverside conta
a história de um latino americano possuidor de uma banda de rock dentro de uma
cidade litorânea ensolarada, que ninguém quer dar a mínima atenção e que, ainda
assim, ele a mantém apesar dos contratempos da sua labuta musical. Assim como
na abertura, o quinteto usa apenas duas guitarras na música God in a Talk Show,
um stoner-punk nervoso e direto, onde se questiona sobre a fé cega que move
pessoas intolerantes.
Paper Planes surge como uma
composição genuinamente grunge com passagens psicodélicas, explorando bem as
possibilidades das suas três guitarras, trazendo nuances inteligentes em
trechos que destacam as personalidades de cada um dos seus guitarristas, seja
nos solos, na base, nos riffs e no experimentalismo, dando campo a versos que
tratam sobre a descrença na humanidade. A penúltima canção, Roswell, foi
resgatada do arquivo do grupo e inclusa no último momento no disco. Ela foi
repaginada, se tornando possuidora de um punch que não perde o fôlego, ainda
com riffs grudentos e uma discreta, porém presente, textura criada no estúdio,
incluída para contribuir na atmosfera da música. Como o título sugere, ela traz
a teoria da conspiração para a roda, tema de profundo interesse dos integrantes
(ao menos quatro, dos cinco, já avistaram um OVNI), o tratando de maneira
instigante na faixa. Fechando o EP (assim como nos shows), I Can’t Hardly Wait
atesta o peso investido nas músicas desse trabalho, falando sobre o ódio e a
raiva em tempos de polarização de opiniões. Isso tudo ainda é amarrado pelo forte
projeto gráfico da capa e do encarte criado pelo vocalista/guitarrista, Sérgio
Mores, que levou ao conceito visual de Empty animais robustos e ferozes, e
divindades cósmicas lovecraftianas para ilustrar as canções e a unidade da
obra.
Neste trabalho, a Game Over
Riverside consegue não se repetir! Mantêm as suas letras em inglês, trazem
composições bem estruturadas, solos objetivos, refrãos grudentos (de pegada
pop, sim, é possível!) e contam com a participação especial de Suzi Almeida,
vocalista da Invena, fazendo backing vocais em quatro canções (faixas 1, 2, 4 e
5). A G.O.R. imprime a sua visão do mundo com uma trilha sonora volumosa para
ela e continua a sua busca pelos cultivadores de histórias infantis!
Para
Stephen King