O nosso país vive um momento
político notavelmente conturbado e escroto. Mais escroto do que conturbado,
diga-se de passagem. E o pior, seguido por uma apatia de uma população que
assiste praticamente zumbificada cada gesto de politicagem suspeito, ou escancaradamente
malicioso. Uma inércia que chega a ser mais forte do que qualquer esquema de
falcatrua televisionada nos noticiários e que é de cair o queixo.
É dentro desse cenário que a
banda baiana Pastel de Miolos chega com o seu mais recente trabalho, o quinto
de sua carreira, Reação! Para além deste lançamento, este é o primeiro registro
da PDM como um duo, “apenas” com baixo e bateria, um formato de certa maneira
inédito dentro do som proposto pelo grupo. Produzido pelo Irmão Carlos e
contando com participações especiais e colaborações, o disco é um verdadeiro pé
na porta ao longo das dezesseis faixas e vinte e oito minutos de som.
O cd abre com Punk Rock é
Reação! E já se percebe o quanto o som está bem preenchido. Nela, o baixo faz a
chamada para a pegada rápida e explosiva da faixa, com um texto, de parceria
entre Bidido e Wilson PDM, que alerta para o fato de que se ficarmos somente
nas redes sociais, nada será conquistado. Com uma pegada mais crossover,
Convicção, Ideia ou Crença e Nada Desfaz imprimem mais velocidade a obra. Com
letra do Sandro Ornellas, A Festa tem um punch mais forte e mais raivoso, com
uma letra de crítica social sem firulas. Depois dela, Um Banho Gelado no Mar
Egeu surge como uma das composições mais surpreendentes do disco. A sua
introdução com os teclados de Durval Oliveira, um andamento mais pop e a letra
inteligente do Lima Trindade, que faz referencia à questão da crise dos
refugiados, geram uma boa surpresa nos ouvintes e não foge à coerência do som.
Sedentário é um convite para as rodas de pogo e é uma boa crítica àqueles
parasitas que fazem nada da vida e que vivem se fazendo de vítima de tudo. Em
Estragados a PDM mete o dedo na ferida do ser humano que é mal caráter e em Not
Dead a dupla desacelera com uma canção de refrão digno de se tornar um grito de
guerra.
Com letra de Tony Lopes,
Filhos da Puta retoma a alta velocidade sonora e faz uma chamada para irmos à
luta contra a quem nos oprime. Sem Nada Mudar e Egoísmo chegam com vigor. Quarteto
III é mais um ótimo momento de Reação!, traz consigo rapidez e raiva, com uma
mensagem sincera sobre se manter bem e distante de quem ou o que nos causa mal.
Vivendo na Culpa traz a questão da busca pelo bem estar através do consumismo
que pode levar a um ciclo infinito de euforia instantânea seguida de um vazio e
as consequências que isso pode trazer. Palavras é uma verdadeira porrada no pé
do ouvido de vinte e três segundos, que versa sobre como as palavras têm poder,
uma verdade universal com apoio dos backing vocais guturais do Fauro. A
sequencia final, com Página 81 (letra também de Tony Lopes) e Reaja ou Vire
Escravo, encerra muito bem o cd com energia de sobra e com mensagem direta e
reta para que o indivíduo acorde, levante e faça algo. Reaja!
Em Reação!, a Pastel de
Miolos atesta a ótima banda que é e porque figura dentre as melhores do país
quando o assunto e punk rock. Creio que tenha sido um desafio grande para a
dupla gravar este disco, considerando a mudança na sua formação e a decisão de
seguir como se encontra hoje. O ótimo texto da dupla, as influências do metal e
os efeitos no baixo extraídos de pedais, vindas do André, e o punk, trazidas
pela grande bagagem do Wilson, moldaram bem a musica dessa fase da PDM, criando
uma identidade musical de mais personalidade sem perder o perfil punk. É claro
que existem outras tantas bandas que se apresentam no esquema
baixo/bateria/vocal, em outros gêneros musicais, mas nesse caso há de se
atentar para essa condição de se reinventar e não deixar para trás o seu passado
importante. Talvez a Pastel de Miolos tenha aberto uma nova porta para o punk
rock!