Pular para o conteúdo principal

A cidade baixa e mais um de seus frutos sonoros. Por Leonardo Cima.



A cidade baixa sempre apronta das suas. Ela é uma das várias regiões da cidade de Salvador que possui as suas próprias características peculiares, seja no seu ambiente, atmosfera ou sons. A penísula itapagipana realmente parece um universo à parte dentro da capital baiana e sempre no quesito sons ela não deixa de fornecer novidades dos mais diversos gêneros, principalmente dentro do rock e suas ramificações. É papo de riqueza produtiva nesse sentido, de fato, e negar isso é vacilo. Muita gente já se referiu à ela como a "Irlanda" de Salvador, a"Seattle" de Salvador, a "Perth" de Salvador. Entendo, mas a cidade baixa fica em Salvador, não em outro lugar. Ela é apenas soteropolitana mesmo, faz parte de um todo, contribui para a pluralidade da cena e ajuda a fazer (e a ser) simplesmente Salvador!

Referências a país e cidades à parte, o fato é que mais uma interferência artística da CBX surgiu neste mais recente domingo (02/08/2020). Lançado pelo nosso selo, SoteroRec, o O Homem do Futuro é o trabalho de estreia do cantor e compositor Hugo Maha e traz consigo uma mistura de diversas referências em meio a abordagens interessantes e um tanto quanto inusitadas, sem temer o risco e oferecendo uma proposta distinta da sua sonoridade a cada passo dado dentro deste seu primeiro EP.

O disco abre com a faixa título, um rock cheio de balanço, groove e swing, com uma guitarra expressiva em sua intro e uma linha de baixo saltitante. Uma atmosfera alegre e dançante, com altíssimo potencial radiofônico e pronta para figurar em trilhas sonoras de novelas igualmente ensolaradas, tudo isso em meio a um texto filosófico/psicodélico. Na segunda faixa já há uma quebra desse clima, com uma versão fantasmagórica/radioheadiana para Like a Stone, do Audioslave. Uma releitura pessoal e intimista ao piano, com arranjo de cordas e com um caráter um pouco mais low-fi, construindo um outro ambiente sonoro. Na sequência, a instrumental Cidade Vazia faz um passeio por caminhos mais eletrônicos, sobre calçadas de batidas programadas tão ligeiras quanto os rastros deixados pela movimentação apressada das pessoas dentro de uma grande metrópole. Encerrando o EP, com o desabafo amoroso em sua letra, Ideia Boa mantêm a vibe de programação da sua antecessora, porém de uma forma mais minimalista, com efeitos de teclado fazendo textura sobre a batida e arranjos em falsetes vocais em cascata!

Tendo executado e produzido o seu debut no melhor estilo one man band, o Hugo Maha em seu O Homem do Futuro consegue chegar a uma unidade sonora precisa, ao mesmo tempo em que pode soar diferente ao longo das suas quatro faixas. As boas melodias de voz, mesmo que parecendo simples, demonstram sensibilidade em suas construções e aplicações, combinando bem com as suas composições. A sofisticação expressa na capa do disco complementa o seu conceito, que mescla o low-fi e o requinte de maneira hábil, como os bons frutos da cidade baixa costumam fazer!

Comentários

Aurélio disse…
Sem duvidas a cidade baixa é um encubadora sonora!
Soterorock disse…
Com certeza, Aurélio. Sempre há coisas boas da CBX!

Popular Posts

As 10 Caras do Rock Baiano - Com a Banda Vômitos, "Punk Rock pra mendigo!"

O Portal Soterorockpolitano foi buscar na cidade de Barreiras os entrevistados da oitava entrevista da série “As 10 Caras do Rock Baiano”, são eles o guitarrista Rick Rodriguez e o vocalista Tito Blasphemer, da banda Vômitos. Nessa entrevista eles falam sobre as condições da cena da sua cidade e do esforço para mante-la ativa, suas influências e a inspiração para as suas letras, além da repercussão do clipe da música “Facada”, que já chegou a mais de 3.000 visualizações no Youtube. Então, ajeite-se na sua cadeira e fique ligado para não tomar uma facada no bucho. Soterorockpolitano - Como e quando surgiu a banda? Rick Rodriguez - A banda surgiu em 2007, tínhamos um interesse em comum, que era o punk rock, e isso nos motivou a formar a banda na época, começamos tocando músicas dos Ramones, que era nossa banda preferida e logo em seguida começamos a compor, e ter nossas próprias músicas. Tito Blasphemer - Estávamos cansados da cena de nossa cidade, bandas que

Resenha: Revista Ozadia, número zero.

Sou um apreciador recente de quadrinhos, e já há algum tempo venho acompanhando o que vem sendo feito de bom neste ramo e fico salivando por novidades dos meus autores preferidos. Ao mesmo tempo que, assim como no rock, é muito bom saber que há uma movimentação local na produção de HQ’s e que essas produções saem de mãos talentosas e possuidoras de uma liberdade criativa que se iguala à música que aprecio. A mais recente novidade é a edição de número zero da revista Ozadia, que é uma compilação de cinco histórias eróticas escritas pelas mãos de sete quadrinistas e roteiristas daqui da Bahia. Lançada com o apoio do selo Quadro a Quadro e ganhando popularidade a cada dia que passa, a revista tem dois aspectos importantes para ser lida mais de uma vez: uma ótima fluência no seu texto e traços inspiradíssimos de seus desenhos. De Ricardo Cidade e Alex Lins, “Especimen” abre a Ozadia com uma ótima ficção cientifica pornográfica, onde a heroína sai em busca de coleta de amostras de um

4 Discos de Rock Baiano, a compilação das cinco publicações. Por Leonardo Cima.

Movidos pelo resgate da memória da cena independente da Bahia, no qual o selo SoteroRec tem feito com o Retro Rocks desde o inicio deste ano  e por todas as ações que o cenário também tem feito nesse sentido, decidimos trazer uma compilação especial do nosso site para você que nos acompanha.  Em 2017, o Portal Soterorock fez uma série de matérias que destacava alguns dos principais discos de rock lançados na Bahia ao longo dos anos. Essa série se chamava "4 Discos de Rock Baiano" e como o nome sugere, quatro discos eram referenciados nas matérias.  Foram ao todo cinco publicações com bandas/artistas de gerações distintas reunidas nesta coletânea.  Você vai encontrar aqui pontuações sobre as obras e o mais importante: o registro público sobre elas, para que possam ser revisitadas e referenciadas ao longo dos anos. Passar em branco é que não pode! O aspecto positivo de se visitar essas postagens é a de ver que a maioria das bandas e artistas citados nelas ainda estão em ativida